4) A GOTA



Essa doença, originada pela incapacidade de eliminação dos excessos de ácido úrico, pode ter causas até psicológicas.
o      SINTOMAS INICIAIS;
o      TRATAMENTO E PREVENÇÃO;


Em cada célula do organismo humano ocorre a presença de ácidos nucléicos, a substância essencial para uma reprodução celular ordenada. Diariamente ao encerrar-se o ciclo fisiológico de milhões de células, essas substâncias passam ao sangue junta­mente com outros resíduos, resultantes da decomposição das células mortas. E o organismo, automaticamente desenvolve processos químicos destinados a eliminar tais resíduos inúteis, chamados catabólitos (de onde o nome catabolismo).

Durante o processo, de transformação em transformação, os ácidos nucléicos alcançam características inteiramente novas, agora com o nome de purinas, substâncias bem mais simples.

É das purinas que provém a maior parte do ácido úrico.

Nas pessoas acometidas pela gota ou artrite úrica, os níveis de ácido úrico no sangue (ou de um sal derivado, o urato monossódico aumentam para 15-20 ml%, contra o teor normal de 4 5 ml%. Ao acumularem-se nos tecidos das articulações, os cristais de ácido provocam inicialmente ataques agudos, caracterizados por dores. Quando evoluem para um processo crônico, essas concentrações de ácido úrico causam deformações permanentes, comprometi­mento dos tecidos circunvizinhos e formação dos inchaços conhecidos como tofos. Casos avançados podem levar a lesões renais ou cardiovasculares tão graves que chegam a ter fatais.

SINTOMAS INICIAIS — A primeira crise de gota em geral surge inesperadamente, com frequência à noite. Localização mais comum da dor o dedão do pé (hálux). Mas não é raro que a zona afetada seja a dos pulsos, dedos das mãos ou cotovelos.

A crise muitas vezes è precedida por pontadas na região afeta­da. Quando se tentam massagens, a dor aumenta, em vez de ser aliviada. Outros sintomas acentuam o mal-estar: sensação de cansaço, dor de cabeça, tensão nervosa.

Durante a crise propriamente dita, a dor é tão intensa que até mesmo o peso das cobertas chega a ser insuportável. A zona dolorosa, de tão sensível, pode impossibilitar a mais curta cami­nhada. Todo o sofrimento do paciente pode ser agravado, ainda, pelo surgimento da febre. A crise dura alguns dias em geral não mais que duas semanas; às vezes apenas uns três dias. Ao fim do ataque, a articulação se torna dormente e inchada. Ocorre coceira e pequena descamação da pele na área afetada. Finalmente, todos os sinais desaparecem.

Mas as crises voltam. E com maior frequência, intensidade e duração. Também o número de articulações comprometidas aumenta à medida que o processo se agrava. Os intervalos entre as crises, porém, variam de uma pessoa para outra, nos limites de poucas semanas a doença, quando não tratada, determina lesões crônicas das articulações atingidas. È nessa fase que aparecem os tofos.

Os tofos são nódulos duros, formados por cristais de ácido úrico que impregnam o material resultante da destruição local de tecidos. A princípio são formações de consistência pastosa, palpáveis sob a cútis, mas com o passar do tempo vão ganhando consistência, até se tornarem duros como pedras. Formam-se caracteristicamente nas orelhas e em torno das articulações lesadas, sobretudo das mãos e dos pés.
O nível de purinas no sangue pode aumentar além dos limites normais de excreção, sobretudo se as purinas originadas no próprio organismo vierem juntar-se substâncias

A, B e C) O ácido úrico provém das purinas derivadas dos ácidos nucléicos (an), liberados no processo de destruição das células (c). Em (C), algumas substâncias que provocam a destruição do ácido nucléico  (af) ácido fosfórico, (t) tiamina; (g) guanina (purina) (a) adenina (purina).
D) O ácido deriva também, em menor quantidade, de purinas (p) que provém diretamente de alguns alimentos.
E e F) O ácido deposita-se sob forma de minúsculos cristais com aspecto de agulha (au) nos tecidos articulares, especialmente nas articulações (ar) das mãos, e determina o aparecimento do ataque agudo de gota.
G) Aparecimento dos inchaços característicos, os tofos (tf), contendo cristais de ácido úrico. Os tofos podem formar-se também ao nível das orelhas e das pálpebras. A princípio de consistência pastosa, eles ficam duros como pedras, com o passar do tempo.





similares comidas em certos alimentos como as carnes de animais em crescimento, sardinhas, crustáceos, vísceras de boi, miolos, miúdos de frango, carnes gordas ou defumadas, vagens, lentilhas, grão-de-bico, espinafre e outros. Também bebidas alcoólicas como a cerveja, vinhos encorpados do tipo barganha e licores concorrem decisi­vamente para elevar o nível de purinas no sangue.

Um elemento essencial para o aparecimento da doença, porém, é a predisposição  hereditária. Aparentemente, a predis­posição está relacionada com o sexo. Nas mulheres, a ocorrência é muito rara e os poucos casos que se registram quase sempre se manifestam depois da menopausa.

Mas uma característica desconcertante da gota é que em mui­tas pessoas ocorre alta concentração de ácido úrico no sangue (hiperuricemia), sem que daí resulte nenhum ataque de gota. A explicação é tentada de vários ângulos.

Em primeiro lugar, admite-se que a predisposição constitucio­nal envolva outros atores, além da baixa capacidade de excreção do ácido úrico pelos rins. Um desses fatores seria a suposta afini­dade entre os tecidos articulares das pessoas predispostas e a estrutura química do ácido úrico. Alguns pesquisadores, por seu lado, levantam a hipótese de que a predisposição poderia envol­ver a hipersensibilidade em relação à substâncias desconhecidas presentes na alimentação.

Mas nem os fatores psíquicos escapam ao inventário de fatores concorrentes e determinantes. Certos pesquisadores atribuem ao trabalho mental intenso a propriedade de agravar as dores.

Nos países de estações do ano bem distintas, nota-se que os ataques de gola são mais frequentes na primavera e no outono, ao mesmo tempo em que já se verificou a influência concorrente de condições atmosféricas como fator de agravamento das crises.

TRATAMENTO E PREVENÇÃO — Como há muitas divergên­cias em torno dos fatores capazes de desencadear a crise, o trata­mento oferece as dificuldades correspondentes.

Analgésicos, antiinflamatórios e outros medicamentos podem ser administrados para melhorar as condições do paciente. Recentemente, foram introduzidas drogas destinadas não só a atenuar os sintomas mas a corrigir a influência dos fatores constitucionais, promovendo a eliminação rápida do árido úrico ou agindo sobre a estrutura química daí purinas. Mas a terapêutica envolve limitações diante dos efeitos colaterais produzidos.

As medidas mais eficazes contra a gota são as de natureza preventiva. Certas precauções dietéticas e higiênicas, adotadas por pessoas predispostas (com registro de casos anteriores na família), poderão prevenir inteiramente o aparecimento das cri­ses de gota ou, então, minorar-lhes os efeitos.

Na dieta normal, considerados os hábitos alimentares brasileiros, ingere-se diariamente elevada concentração de purinas, pre­cursoras diretas do ácido úrico. Os alimentos, além disso, incluem uma quantidade variável de ácidos nucléicos comidos nas células dos tecidos animais e vegetais que constituem o maior volume da dieta. Por essa razão, alimentos ricos em purinas devem ser evitados ou reduzidos. Despreocupar-se em relação a eles equivale a arriscar-se a elevar a nível de ácido úrico a limi­tes superiores á capacidade normal de eliminação

Já as dietas com predominância de açúcar e de proteínas pobres em purinas (como o queijo, o leite e os ovos permitem excreção normal do ácido úrico. Frutas, leite e queijos não fer­mentados corrigem a acidose latente, característica do portador de gota. Águas alcalinas de mesa. bem como líquidos em geral em grandes quantidades, contribuem para prevenir lesões renais, pois possibilitam uma lavagem mecânica constante dos rins.